segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Passione

23:00
Você me ligou pra que eu contasse a novela. A gente fala que o fim é sempre igual, mas gosta de ver. Pelo menos é o que dizem por aí. É ainda mais patético do que soa. Eu não sei quem foi mais subestimado. Se eu, porque ouvi uma desculpa do tipo ou você, porque sabia que eu não iria acreditar, sabia que seria capaz de inventar qualquer coisa mais convincente e ignorou essas duas verdades. Ignoramos, os dois. No final, é claro que eu contei. Você disse que aí o céu chorava. Me calei. Porque você só se torna metafórico quando já não há nada pra dizer. Porque me parece inútil explicar o vazio. Pouco tempo depois, o céu começou a chorar aqui. Eu dormi.

05:15
Triste é essa manhã, eu não sabia que o céu gostava tanto da gente. Chove desesperadamente. Ontem você me segurou forte e me disse suave: não tente medir forças comigo. Sabe, essa noite eu tive um sonho, estávamos numa piscina e você repetia isso, exatamente com a mesma força, exatamente com o mesmo tom... "Você não pode medir forças comigo". Eu não podia. Você me afogava. "Por que não? Não é seu último desejo, afinal?" Me diga, aquela piscina era o seu abraço? Me afogar pra sempre não é tão bom quanto sempre imaginei. Sinto falta do seu cheiro que me roubou o ar. Chove mais, chove menos. Tanto faz, você não vem mesmo.

8:00
Lavo o rosto como quem lava impressões de um passado presente. Que acaba de se tornar passado passado. Ainda que isso pareça mera repetição de palavras. Tanto faz, você não vem mesmo.