Foi aquele capricho de chamar de amor sua aparição, mesmo distante, míope e sem saber sequer seu nome, que me levou pro seu lado dias
depois. Então entendi que não é verdade que aquilo que a gente procura só chega
quando menos se espera. Eu te encontrei no dia em que saí de casa sedenta por
algo pra chamar de felicidade, passei a noite te observando e por você sendo
observada e o que teria acabado aí recomeçou porque, teimosa, eu não desisti de
te encontrar nessa vida mais uma vez. E assim, dividimos mar, cama e sonhos. Entre olhares,
sorrisos e incredulidade que, depois de dez horas grudados, a gente não se dava
ao trabalho de disfarçar. Você ali, que parecia mais intrigante a cada vez que
eu abria os olhos, era verdade mesmo. Assim te imaginei e assim você me apareceu.
E me olhou, me sorriu e me beijou; e se demorou deliciosamente nesses três impulsos, como se cada um deles fosse o último, como quem está exatamente onde gostaria. E eu fui feliz. Mesmo sem garantia de que isso não
seria só um relato no diário no dia seguinte, um desejo, uma quase necessidade
de contar pros meus papéis que o amor existe sim, ainda que só dure dez horas. E sigo multiplicando esses dez por dez, pra dar tempo de suspirar por outras tardes degradês e outras noites de
lua cheia iguaizinhas àquela, pra dar tempo de lembrar como é não estar tão só...
Pra dar tempo de, em segredo, esperar você voltar.
“Daria pra pintar todo o azul do céu, dava pra encher o
universo da vida que eu quis pra mim. Quando eu mergulhei fundo nesse olhar,
fui dono do mar azul, de todo azul do mar. Foi assim, como ver o mar. Foi a
primeira vez que eu vi o mar. Daria pra beber todo o azul do mar.”