sábado, 11 de fevereiro de 2012

Havia chuva. Com a ajuda das bandeiras esquecidas do São João, ela ornamentava a tarde com harmonia, tornando-a ainda mais apática e pardacenta — mesmo que, antes da sua chegada, me parecesse improvável que algo fosse capaz desse feito. Havia, pois, murmúrios. A habitual insatisfação, aqui, ali e ao redor da piscina vazia. É sempre assim, as pessoas não gostam da chuva. Mas, nessa tarde, ela me pareceu amigável. Talvez por sua transparência, seus ares de melancolia, sua vinda repentina e irreversível. Chuva é que nem tristeza: Não se pode pará-la ou mandá-la embora. Há que esperar. A água não traz respostas, mas também não provoca dúvidas. Não causa esperança, tampouco medo. Não conta histórias e nem carrega consigo nossa descrença enquanto flui para o ralo da piscina. Apenas cai. Simplesmente, e com a resignação de quem bem conhece as linhas da própria mão. E nem isso a torna submissa: Chuva não pede permissão para molhar. Eis a nossa diferença. Nessa tarde, eu começava a me fundir com ela. Minha presença era agora quase silenciosa e minha pele adquirira sua palescência quase translúcida. O azul dos olhos tornara-se cinza, e a água que caía deles não fazia diferença para mim. Mas para os outros. Mesmo sem molhar ninguém. Não é justo. O Sol é quem deveria pedir permissão para brilhar, ou ao menos explicar o motivo de sua aparição. É ele quem me faz adoecer, quer me deixar de cama, exausta de tanto fugir. Olhá-lo diretamente, por outro lado, pode cegar. Eu nunca olhava. Eu corria. E chorava. E chovia. 

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