quarta-feira, 26 de setembro de 2012


Vi você ir, observei seus passos, seu jeito de olhar pra trás enquanto caminhava. A cada passo, menor era a esperança de que mudasse de ideia, como da outra vez. E ao dobrar a esquina, quem chegava do outro lado era... Você! Mas deixava de ser, na brevidade de um piscar. Tenho aprendido muito. Essa noite aprendi a chorar sem querer saber o porquê, a encostar meu rosto do lado do seu só pra ficar pertinho e a responder sarcasmos com beijos. Aprendi a me desarmar e só então me dei conta de que nunca havia precisado de armas. Toda a sua grosseria não passa de uma mentira, mais uma de suas mentiras, que, como as outras, confessam-se no momento em que seus olhos me olham. Seus olhos não se cansam de me olhar. Por quê? Não sei. Você disse que iria sentir minha falta para sempre com a propriedade de quem conhece o próprio destino, mas do mesmo modo que talvez você tenha certeza da legitimidade do fim, eu tenho certeza que você me ama. E isso ficou claro no primeiro olhar, no segundo, e ainda mais naquele terceiro, aquele que você escondeu no travesseiro, enquanto batia o pé no colchão, indignado por não poder me beijar. Como você evitou. E eu evitei também. Eu, que podia ter te beijado no primeiro segundo sem arrependimentos, quis ver até onde você era forte pra vencer a si. E vi. Nunca foi sonho, é tudo verdade. Ela só reflete, à noite, nos lençóis.

"Where are you now? Cause I’m kissing you…"



Mal deu tempo de abrir os olhos e o dia já era saudade. Como é doloroso lembrar-me de ti de súbito com a intensidade pérfida dos sonhos. Ser forçada por mim mesma a viver o que não existe e em seguida quase acreditar que existiu. Olhei pro celular, traindo a mim e a verdade, dividida entre realidade e delírio e unindo estes dois vocábulos como quem transfunde duas dimensões. Se eu te disser agora que essa noite você esteve em cima de mim, sussurrando as melhores maldades, sentindo a vibração da minha voz como lâmina afiada, aguda, penetrante de tão perto, dizendo palavras tão desconexas quanto verdadeiras, se eu te contar como era comovente tua expressão espontânea ao se dar conta da quantidade desmedida de amor que podia haver entre nós dois, no meio de nós, sem que ao menos existisse meio… Eu mentirei, amor. Não eras tu ali. Mas tinha o teu rosto. Teu corpo, voz e gosto. E tinha teu nome. Eu o chamava e era amada. E agora, hein, que ouvi uma promessa e não sei a quem devo cobrá-la? Não tens culpa, eu sei, não eras tu, mas parecia-se tanto contigo…