Vi você ir, observei seus passos, seu jeito de olhar pra
trás enquanto caminhava. A cada passo, menor era a esperança de que mudasse de
ideia, como da outra vez. E ao dobrar a esquina, quem chegava do outro lado era...
Você! Mas deixava de ser, na brevidade de um piscar. Tenho aprendido muito.
Essa noite aprendi a chorar sem querer saber o porquê, a encostar meu rosto do
lado do seu só pra ficar pertinho e a responder sarcasmos com beijos. Aprendi a
me desarmar e só então me dei conta de que nunca havia precisado de armas. Toda
a sua grosseria não passa de uma mentira, mais uma de suas mentiras, que, como
as outras, confessam-se no momento em que seus olhos me olham. Seus olhos não
se cansam de me olhar. Por quê? Não sei. Você disse que iria sentir minha falta para sempre
com a propriedade de quem conhece o próprio destino, mas do mesmo modo que talvez
você tenha certeza da legitimidade do fim, eu tenho certeza que você me ama. E
isso ficou claro no primeiro olhar, no segundo, e ainda mais naquele terceiro,
aquele que você escondeu no travesseiro, enquanto batia o pé no colchão,
indignado por não poder me beijar. Como você evitou. E eu evitei também. Eu,
que podia ter te beijado no primeiro segundo sem arrependimentos, quis ver até
onde você era forte pra vencer a si. E vi. Nunca foi sonho, é tudo verdade. Ela só reflete, à noite, nos lençóis.
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