Mal
deu tempo de abrir os olhos e o dia já era saudade. Como é doloroso lembrar-me
de ti de súbito com a intensidade pérfida dos sonhos. Ser forçada por mim mesma
a viver o que não existe e em seguida quase acreditar que existiu. Olhei pro
celular, traindo a mim e a verdade, dividida entre realidade e delírio e unindo
estes dois vocábulos como quem transfunde duas dimensões. Se eu te disser agora
que essa noite você esteve em cima de mim, sussurrando as melhores maldades,
sentindo a vibração da minha voz como lâmina afiada, aguda, penetrante de tão
perto, dizendo palavras tão desconexas quanto verdadeiras, se eu te contar como
era comovente tua expressão espontânea ao se dar conta da quantidade desmedida
de amor que podia haver entre nós dois, no meio de nós, sem que ao menos
existisse meio… Eu mentirei, amor. Não eras tu ali. Mas tinha o teu rosto. Teu
corpo, voz e gosto. E tinha teu nome. Eu o chamava e era amada. E agora, hein,
que ouvi uma promessa e não sei a quem devo cobrá-la? Não tens culpa, eu sei, não
eras tu, mas parecia-se tanto contigo…
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