Eu, enquanto punha à prova minha resistência e conversava com meu medo da irrealização, encontrei um novo vício. Estava atrasada. Atrasada pro futuro, pro passado e pro hoje. Pra esse último, não houve uma só vez em que tenha chegado a tempo. Corro atrás do vento no meio de um tiroteio, cega por opção. Eis que me atinge uma senhora. Ela jura que foi sem querer e eu juro que acredito. Atira em mim, sorri e se apresenta. Eu já a conhecia dos meus sonhos. Seu nome é Dalila. "Que olhos tão azuis, esses que não enxergam"... Foi tudo que a ouvi dizer. E ali, caída no chão, eu respirei aliviada: os gritos de quem corria de um lado para o outro pareciam cada vez mais distantes. As buzinas e disparos também. A verdade é que eu procurei essa mulher por alguns dias e ela veio até mim no meio dessa festa ao avesso como se soubesse disso. Mas ela não sabia. Ela, a culpada por atirar em mim, sabia menos do que eu o quanto eu precisava cair naquele chão e sentir gosto de sangue. A sensação é maravilhosa, mas é tudo tão rápido que você mal consegue descrever. Só lembra que sai de si e, saindo, perde a responsabilidade de ser quem é. Você vira nada. E nada é tudo.
O problema é quando as horas passam e as respostas vêm tarde demais. Você percebe que apressou a morte simplesmente porque tinha medo dela. E desperdiçou a vida procurando fora o que já tinha dentro... desde o dia em que chorou pela primeira vez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário