sábado, 19 de julho de 2014

A brisa e tu sonrisa

Esqueci que precisava me defender de você
Quando me dei conta de querer te proteger
Da professora bruxa, do sol, do mar, da chuva,
Do meu olhar de dúvida
Você me despetala, e eu te quero bem
Você me sopra, meu caule flutua

Fico nua

sexta-feira, 11 de julho de 2014

daquela visita inesperada


aquele sorriso que você deu
e depois desviou o olhar do meu
mas eu vi!
e eu também sorri...

terça-feira, 8 de julho de 2014

Não há lugar que eu passe sem deixar pegadas, rastros da minha existência que se espalha com os átomos porque não cabe em mim. Não sei ser formal. Impessoal. Não sei falar na terceira pessoa. Quando estou triste ou feliz, eu canto - e fica muito claro se sou riso ou pranto.
"Eu que não fumo, queria um cigarro." Um pedaço de papel se dobra e desdobra. Eu preciso parar de ser tão óbvia. Uma mecha de cabelo se enrola e desenrola. Por que não sei disfarçar, como toda boa atriz? O olhar se lança ao longe. A cabeça diz que sim. Você ri. As unhas tamborilam uma superfície qualquer. Te olho. O dente morde a unha. Desvio. Faço menção de falar. Não falo. As lágrimas retrocedem dos olhos para a garganta. Uma cai. Nada demais. Mantenho a calma. Fecho os olhos. Seguro a onda. Estou bem. O abraço esconde a lágrima, mas revela a pulsação. Você sente o meu coração. Respira com dificuldade. Sussurra que sente saudade. Eu também. Tá tudo bem.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

O espelho tem olhos vermelhos. O carro desliza na chuva. Recosto a cabeça no banco. E me deixo ir. E te deixo ir. Piscam teus olhos e o semáforo apressado. Passa por nós tão rápido quanto a noite durou. Enquanto eu balbucio uma canção que me possa ser. Porque estou cansada. Muito longe do início do jogo. Minha língua é o sinal que ela dá. Seu discurso condiz com o que o corpo conduz? Eu estava sozinha quando o eco gritou “eu também”? Quais eram mesmo as palavras? Só me lembro do que senti. A parede também tremeu. Não rememorei as cenas, eu juro. Elas voltaram por si próprias, sangrando. Tão vivas quanto antes. Tão vivas quanto ontem. Quanto você nos meus braços, ofegante. Refletindo minha expressão, como quem sente o mesmo prazer agudo sem ser penetrado. Lambendo minhas feridas com a janela aberta. A chuva não desfaz o fogo. Molha a rua. Abro os braços. Como quem não sente medo, porque já perdeu. Porque nunca teve. Como quem não sente dor e dá a outra face. A outra pele. Todas. E você entra. Eu não seria tão sádica de te falar dessas bobagens quando você precisa dormir. Não tanto quanto masoquista pra senti-las até perder o sono. Ficou em algum ponto da estrada. Talvez num quarto barato. Talvez num barato sóbrio. Uma embriaguez lúcida. Um sorriso sério. Um sarcasmo inédito para perguntas retóricas. 
Arrepia. Nossas crianças morrendo em câmera lenta.
Mas da janela, eu vejo a cena crua, em tempo real e sem maquiagem.
Mostre-a de um ângulo ainda mais ácido.
Misture tragédia com sarcasmo.
E traga as telas o que acontece lá no morro.
Porque talvez eu não me arrisque a entrar lá nem por um entorpecente que me faça esquecer os monstros.
Pois nem mesmo os malditos monstros se arriscam a chegar perto do perigo.
Do caos que eles criam enquanto você dorme.
E enquanto você vacila o sistema fica mais nervoso.
Traga às suas lentes a imagem lá de baixo.
Porque chegamos a um ponto da nossa miopia em que até o muito perto parece muito distante.
O inferno, a grota, o sangue me lembra que estávamos vivos.
Antes daquele disparo, de toda essa disparidade.
O assassino não suja as mãos de sangue.
Escolhe qualquer vítima pra estampar os jornais.
A chamam de assassina, desviam a culpa do monstro disfarçado de gente
Que tem como armas, palavras, e um rosto sorridente.
Está naquilo que você não vê porque você não saber ler.
Você sabe, no máximo, juntar as palavras.
Posso dizer que amo como quem dá bom dia
E ver o amor intacto ao fim do dia
Como quem nunca na vida foi revelado
Mas você, de partida, pareceu cansado
E não existe algo que o amor mais tema
Que perceber-se envolto num cruel dilema,
Que provocar repulsa a qualquer momento
A dor, então, se isola ali no desalento
Te venerei com meus olhares mais carentes
E meu amor sorriu feliz, porém, sem dentes
É que uma entrega assim nem sempre soa bela
O alvo amado então virou-se pra janela
Mirou um ponto fixo, o redentor
Pra desviar o olhar do que perdeu a cor
Mas, de tanto sonhar, eu sequer percebia
E antes de acordar, sorri: "amor, bom dia."
A menina passa a madrugada no balanço do parque, procurando pela lua que não quer sangrar. Balança pra frente e pra trás, pensando que o senhor Sol podia demorar pelo menos mais umas três horinhas pra só então aparecer. Pendendo do seu pescoço, estão suas borboletas. Ao seu redor, sua escolta de árvores. Ouve passos e os ignora. Seu não-pensar importa mais.
sentidos
sortidos
sentimentos
sentirmedo

Do ano passado

Vamos fazer de conta
Que não fiz vocês chorarem tanto
Que não cheguei causando espanto
Não há motivo pra esse pranto
Estou tão enjoada, estou me sentindo mal
Eu não fui avisada do efeito colateral
A gente nunca sabe se a dor realmente cura
Estou tão enjoada, quero um copo de água pura
Transparente, de preferência
Ver o mundo sem interferência
Como um copo de água pura
Como essa rua é escura!
Como eu vim parar aqui?
Talvez lembrando consiga sair
Será que não tem saída?
Só tinha passagem de ida?

Nua por dentro

Dói uma dor anestesiada. Uma dor turva. Cinco da manhã. A insônia grita. Eu mal escuto o que quer que seja. Mas o fato de não dormir faz a noite não acabar. Sou a continuação do erro. Em carne viva e dopada pelo medo. Uma resposta? Aguardo-a nos sonhos. Vou pro mar. Não. É perigoso lá fora. Melhor trancar o medo em casa. O cansaço mal permite que os pés sintam o chão. O corpo não sente porque, acordado, dorme um sono sem sonho. A alma é que não suporta o próprio peso. Uma vida virada ao avesso numa noite, e nada faz sentido. Pensei ter visto seu desprezo ao ouvir de novo a palavra amor. Talvez eu possa aprender uma nova canção. Está doendo uma dor que não doía há muito tempo. Uma dor que não é minha: Atiraram em mim. Sou mágoa. Todos os dias tiveram um significado claro, mas o ontem que não quer passar não se revela. Qual é? Eu não me permito mais sofrer dessas dores que diminuem! Eu amo a dor - mas a que me faz crescer. O amanhecer é tão bonito que quase me distrai. Eu continuo pedindo ajuda às palavras.

Sou míngua.
A varanda da minha casa tem o dom de me calar. O rosa do pôr-do-sol reflete no azul do mar. A varanda daqui de casa tem som de água e mais nada. Na varanda de onde eu moro, eu adoro ficar calada. O céu está ganhando um novo tom de azul. Se o dia não se fez noite, há cores, de norte a sul. A lua sorri pra mim: timidamente minguante. E as ruas, vistas daqui, parecem muito distantes. Agora o Senhor Sol foi se por do outro lado. E o raio de luz que era rosa, foi ficando amarelado.
Passo todo o tempo comparando o que eu era com o que já não sou, na tentativa de entender o que me tornei. O vazio, a faca e o queijo. A ausência da mão. Querido Deus, em que parte de mim você se escondeu? Estou paralisada. Venham, sonhos, venham. Não adianta tomar um ansiolítico. Não estou ansiosa: Estou triste. "E o lugar mais frio do rio é o meu quarto."
Respire fundo e inspire. É como se uma flor vermelha se abrisse. É como uma sala branca, um copo transparente. Folhas laranjas na calçada. Uma tarde outonal da janela de uma clínica de recuperação.
Entre o agora e o mais tarde há uma infinidade de ondas e pensamentos sincronizados, carros e faróis, a velha casa abandonada com ar barroco, dedilhados, dedos entrelaçados.
Por favor, não me mostre essas imagens: Eu conheço uma menina que todas as noites procura algo no meu lixo. Por favor, eu sou a mulher que esteve de mãos dadas com o amigo do meu namorado. E todos nós só queríamos vingança, e a esse filho que cresce em nossa barriga e nunca nasce, demos o nome de amor. E nós tínhamos raiva do mundo. Por favor, eu não quero lembrar. Por favor, isso dói.
Você perguntará insistentemente se estou bem, mas eu não tenho tanta certeza de que se importe. Não estou tentando criar memórias pro futuro, enquanto sua cortina balança pra lá e pra cá. As lembranças devem vir naturalmente. Mas nesse momento, eu gostaria de ir pra casa, e não ter que pensar muito sobre a conversa marcada pra hoje. Não sei por que eu nunca pus os pés no chão. De algum modo, fazê-lo agora dói um pouco. Eu não quero falar sobre isso de novo e ver a lua se esconder por trás da nuvem. Talvez agora eu possa ser forte. Nunca tive amigos, mas posso contar com a sorte.
Estou aqui de novo. É quarta-feira, véspera de um feriado que me pegou de surpresa. E me vieram as palavras, enquanto você foi a cozinha pegar um copo d'água e deixou o livro do Neruda comigo. Enquanto você retirou o violão da case e tocou alguns dos seus rocks. Você toca o mesmo riff várias vezes. Nesse meio tempo, eu sou só minha, ainda que sua. Estou aqui de novo, sentada na sua cama, de onde sempre me brota o suor. Hoje me brotam palavras. Sábado, olhar pra você me inspirou silêncio: A poesia era seu rosto e, por mais que eu te bebesse, restava muita sede. Estou aqui de novo. As palavras me envolvem, como a pele envolve um camaleão. Será que estou aqui, enquanto olho pro seu guarda-roupa e pouso o olhar sobre algo meu? Será que estou aqui, agora que você me olhou e eu não sei o que disse? Sua voz é sexy. Minhas pernas estão abertas. Será que estou aqui? Ou é a minha bolha que é transparente? Estou aqui de novo e meus pés se sentem à vontade nos seus lençóis. De repente, meus medos bobos de hoje são menores que os do ano passado. Crescer pode significar medos a menos. Às vezes, pode até ser bom. Não sei se estou aqui, mas estão aqui meus sapatos e seus lençóis listrados. E minhas unhas e sua caneta azuis.
Ele diz que eu deveria ser canhota: Só uso a mão esquerda pra gesticular. Estou falando sobre um desimportante, e ele ouve - não as palavras, mas os signos. Enquanto falo, ele me observa cautelosamente, o olhar passeia pelo meu rosto e eu finjo não me perder.
Tudo que ouço é minha própria voz soluçando. Quero ser minha amiga de novo. De alguma forma, estou mais perto disso. Sinto-me mais verdadeira. Mortal, chorona, medrosa e feia.

Rabiscos molhados de águas salgadas

A intimidade não suporta a distância
O carinho luta contra a rejeição
A esperança já não pensa no assunto
Melhor não ouvir nada do que ouvir não
As lágrimas embaçam a visão
Sua ausência está por todos os lados
E o mar continua o mesmo
Eu não quero encarar os fatos
Nem que você me faça rir
Com qualquer piada idiota
Pr'eu esquecer por um segundo
Sua fuga da minha rota

Eu te vi tão perdido quanto eu
Eu mal consigo acreditar no que aconteceu