sexta-feira, 31 de maio de 2013

deveria ter ido dormir
com o sono me dominando
mas me agarrei à minha dor
e senti ela me abraçando
esqueci até a rima que tinha pensado em fazer
porque hoje o amor morreu
e eu precisei dar a notícia a mim
e disse que o tempo há de curar
e o que nessas horas a gente sempre diz
é claro que não acreditei
porque ainda é cedo demais
o velório nem acabou
e eu vou dormir um pouco mais tarde
porque hoje morreu meu amor

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Fui atrás da suavidade do seu som, mas a resposta me surpreendeu. Outra pessoa me desafiou e eu não fui embora até assimilar. Você nem sabe que eu te procurei, porque viram meu recado primeiro, mas desistiram de saber o que eu faria porque simplesmente não reagi.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Eu nunca mais terei você, meu bem
Porque não amo o suficiente pra fingir que não
Eu não te quero tanto assim pra ainda tentar mentir
Eu vou embora e eu assumo que você ganhou

Conheço o jeito de fazer voltar
Mas eu não amo tanto assim pra esconder a dor
Se não há tempo pra falar de nós, por que há tempo para bobagens? Você estava bem na minha frente e meus olhos te procuravam sem encontrar. Não respondi nenhum dos seus comentários banais só pra não ir ainda mais pra longe. Ainda mais pra longe, mesmo na tua cama. Ainda mais pra longe, mesmo te vendo chorar. Mesmo te abraçando, mesmo te beijando, mesmo tão perto, tão e tão dentro... Mesmo assim você não me deixa entrar. E é como se eu ainda estivesse parada na sua porta, com aquele olhar que você quase imita, quase corresponde, quase pergunta. Mas você não pergunta. É que entre o quase e a resposta, há um oceano de medos. Você me diz que são ondas. E que você gosta de ver as ondas. Eu gosto um pouco mais de você. Mas e daí, não é? Se a gente junto dá no mesmo. Você mais esverdeado, eu mais azul, o mar no meio-termo, a gente dançando a mesma música, tão mais silenciosa e profunda do que todas as melodias e letras que um dia pretendemos fazer. É bem verdade que nessa comunhão, não existe o tempo. Não existem as palavras. Não há por que falar de nós. E as bobagens... São outras. São bonitas.

g r a t i d ã o

sábado, 25 de maio de 2013

O som embriagante do violão toca flamenca
Misturando-se de súbito com o celular insistente
Tornando-se dissonante e ainda mais sangrento
Não para, não desliga, não apaga. Continua.
Ele pede explicações, mas quero dá-las a você (e quero dar pra você)
A você que não quer. A você que não precisa.

A você que não merece.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Refluxo

Ânsia de vômito sela o nosso fim. Eu deveria ter o tomado remédio e dormido cedo, estaria acordando agora, na mesma posição em que fui deitar. Mas fiquei esperando, vi o dia amanhecer e você apareceu me causando nojo. Eu odeio você. Odeio seu jeito de falar e mais ainda suas mentiras. Mas não espere que eu diga isso na sua cara, porque minto tão bem quanto você. Vamos ver quem resiste mais tempo. Ao fim da partida, alguém vai ter que perder.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Paradoxo

Estou viva e vejo agora que não amo mais você. E essa vida é tão maior do que o meu medo de morrer...

Sangue. Isso que jorra é sangue. Isso que mancha nossa parede, que se alastra pelo nosso chão. Humanidade. Não chega a ser grandeza e nem chega a deixar de ser. Isso que por pouco não me mata me distingue do que não tem vida.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Não sei por que insisto. Não sei que fio de esperança é esse que não se rompe, que só ameaça, e sobre o qual estou suspensa: balanço entre o sim e o não e não despenco para lado algum. Pior que me manter nesse equilíbrio adverso é fazê-lo enquanto estampo o mais brando sorriso. Eu vendo a minha dor pra alimentar o vício. Eu troco todo o amor por um grama de ilusão.

terça-feira, 14 de maio de 2013


Observo o tremor das minhas mãos. Parada, em silêncio. Já não luto contra isso. Acho curioso você mexer tanto comigo. Assim, meio que de propósito. Um despropósito. Mas não procuro com a velhas urgência minhas defesas. Porque não as tenho. Eu nunca as tive. Percebo isso agora olhando seus olhos pretos impenetráveis. Que estupidez medir forças com eles...

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Passo pelo parquinho que foi tantas vezes cenário dos meus sonhos, o parquinho dos nossos planos frustrados, onde eu te esperaria para, a partir daí, seguirmos juntos. O parque era a única certeza: o ponto de encontro. Seria muita pretensão da gente querer prever o depois. Um filme do Godard ou um mousse de maracujá? De repente, não sei por que, nos imaginei dançando essa música dos Smiths: a quarta do primeiro CD. As rimas que descrevem nosso quase caso são tão acidentais quanto ele mesmo. Tão acidentadas quanto as notas da canção que nos convida para a dança. Como o erro de grafia no letreiro do brinquedo: "alto pista". Poderíamos ter rido disso. Sequer nos encontramos. E hoje, não sei se passo pelo parque ou se é ele que passa por mim. Nesse curto intervalo, ouço o alarme do brinquedo cujo título está errado disparar. O tempo acabou. As crianças descem de seus carrinhos a contragosto. É assim que me sinto. "E se por acaso a gente se esbarrasse justamente aqui?" Insisto nessa fantasia, desacelerando os passos pra dar tempo de você aparecer. Podíamos ir a museus; turistas, em nossa própria cidade. Podíamos ir a motéis; turistas, em nossa própria liberdade. Poderíamos desbravar todos os mundos, samba na lapa, coco de roda, andar de bicicleta em Amsterdã. Um show do Milton, dessa vez comigo. E nada mais de lágrimas, mas sorrisos coloridos. "Quem sabe isso quer dizer amor?" Quem? Poderíamos somente nos ver também. Acenar educadamente, talvez seguir, separados, sem perder tempo com essa trabalheira toda de ser feliz. Seria muita pretensão da gente querer prever o depois.

http://www.youtube.com/watch?v=j68Mxg2ux78

sábado, 11 de maio de 2013

Teu olho é verde. Diz pra eu seguir em frente. Mas é mentira. É verde de mar. Canto da sereia, quer me afogar. Você não sabe que eu vivo submersa nesse oceano de você faz tempo. Faz frio. Já nem sei quanto tempo, quanto frio. Mas quanto mais eu te vejo por todos os lados desse azul, menos você está. O que é que eu tô dizendo? Já nem sei se é verde, se é azul. Mas é mentira. Canto da sereia.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Pode ser que enquanto eu penso em você assim
Vocês estejam vendo o mar, cantarolando Tom Jobim
Ou numa cama pequenina, se ajeitando pra caber
Um amor desses bem grande, como o que eu sinto por você
Meu bem, como é triste te ver da janela
Roubando uma flor do meu jardim pra ela

segunda-feira, 6 de maio de 2013


Eu tinha vontade de gritar. Lembra? Quando você me perguntou? Mas não era gritar no meio da rua ou na janela de madrugada, com uma garrafa de cachaça na mão não. Era gritar do seu lado, a qualquer hora, de dia de noite, gritar. Do lado não, na sua frente, sóbria, olhando nos seus olhos. Gritar! Porque você é tão bonito... Eu também tinha vontade de tirar minha roupa, rasgar minha roupa inteira no meu surto mais psicótico e exigir que você olhasse pra mim. Eu não tô falando de sexo não, pode tirar a mão daí, eu já sei você é bom em me devorar e virar pro lado. Tô falando de amor, o mesmo amor que você proclamava mas que nunca teve coragem de sentir na minha frente. Cadê esse amor? Olha nos meus olhos e me fala onde é que ele tá que eu juro que visto minha roupa agora, nem calço os chinelos, eu rolo escada abaixo se for preciso, mas garanto pra você que sou capaz de encontrá-lo.

sábado, 4 de maio de 2013

E como a mais ridícula piada, as primeiras gotas que saíram das minhas entranhas me fizeram imaginar a gargalhada satisfeita do destino, por me deixar presumir o que seria feito do meu sonho nos próximos minutos. Um sonho acalentado por tanto tempo, e que eu teria acalentado por toda a eternidade, começava a se desfazer diante dos meus olhos em forma de sangue. Em forma de dor. Dor viva que anunciava morte. Minhas mãos ensanguentadas marcaram no azulejo branco o primeiro dos dias de um vazio cruel. Sozinha gritando com as forças restantes por um socorro que nunca veio, que nunca viria. Desvanecendo de dor. E eu permaneci ali, não sei por quantas horas ou dias, desejando, até mesmo esperando morrer junto com meu filho. Esperando em vão e eu já devia saber. O pior castigo não era a morte, mas a vida que iniciava ali.
05-11-2011

"Eu discordo!", esbravejou Justine, apertando com força a taça de cristal que um dia conseguiu contemplar sorrindo sem saber ao certo o porquê. Talvez por ser ainda mais velha que as quatro paredes rachadas que rodeavam a vida ali. Ou por ser a única coisa que, depois de tanto tempo, ainda conseguia brilhar. O eco de suas duas palavras desfez um nó que há muito havia prometido eternidade. Era sua última frase. De fato, nenhuma a mais se fazia necessária. 
"Eu discordo!", Lucas repetia para si todas as noites. Era como se pudesse ouví-la dizer que “talvez ele mesmo já consentisse aquele dia a dia hostil e tudo bem também se o resto do mundo já não tinha nada a ver com isso: para ela, todos aqueles pontos de sangue e cristal no chão significavam um ponto apenas. Ponto final.” E que queria dizer discordar? Que estranha força tal palavra possuía para ser capaz de arrancar violentamente Justine do silêncio, do medo e de Amadora? Às vezes, durante as sucessivas madrugadas eternas sem ela, a chuva caía tão insistentemente que parecia querer sussurrar-lhe a resposta. Nessas horas, Lucas tentava simplesmente dormir. Sonhou que não tão longe dali, lágrimas e suor se fundiam no corpo de Justine. Um dia, não conseguindo visualizar um futuro convidativo onde estava, ela se deu conta de como adorava ser sua pior inimiga, alimentando as torturas mais terríveis, como se desejasse saber até que ponto sua alma aguentaria a pressão sem se deixar esmagar, como fizeram os sonhos. Os anos. A taça de cristal. Talvez, pensou Lucas, nessas e em outras horas, imersa na mais profunda urgência de fuga, Justine, como ele, desejasse apenas dormir.
18-09-2012