quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Estávamos rindo, eu e um querido desconhecido. De repente, o olhar. Meu Deus, é você! Meu inconsciente me traiu essa noite... Eu não me esquecerei disso. Mais nítidos que muitos, seus olhos sorriram pra mim na realidade alternativa.

Eu posso acreditar no que eu quiser.

sábado, 21 de setembro de 2013

Corujão 2011

Não fomos ao cinema ver um filme romântico no meu aniversário como você sugeriu, nem passamos a noite juntos dormindo como tanto planejamos. Mas pouco mais de um mês depois, separados por poucos metros e algumas cadeiras, assistimos a vários filmes e passamos a noite juntos, acordados, sob o mesmo escuro e assistindo à mesma tela, fria como o nosso amor, que é tão ilusório como minha forma de ver esse momento que nós (não) passamos juntos no expressivo diálogo do silêncio. Pode significar tudo ou nada, dependendo somente da interpretação de quem o escuta. Tudo acabou quando o vi saindo da sala de cinema de mãos dadas com alguém e recomeçou quando constatei que aquele não era você. Mas foi só chegar perto pra me sentir a quilômetros de distância. Você é bem mais real nas lembranças do que nunca aconteceu. Há alguns dias, eu havia ensaiado a forma intensa como te beijaria, pra compensar toda essa saudade. Impossível. Você é inacessível, não se deixa amar. E veja só: ainda assim, teimei.  

Achei esse texto hoje, arrumando coisas velhas. O escrevi no dia em que se passa a história, num papelzinho do Cine Sesi: "Obrigado por escolher nossos serviços. Ajude-nos a melhorar, deixando sua opinião."

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Não convidei Fulano, Cicrano também não vem
Essa é uma festa íntima, chamar alguém não convém
Prepare suas teias, Tristeza, percorra esse vazio
E abra a janela, que chove, e hoje eu vou sentir frio

A festa é pra que se aloje, porque é difícil assimilar sua volta e impossível fazê-la ir embora sem que queira. Só vai se quiser. Então fica, poxa. Tantos vãos vazios pra que escolha dormir seu sono apático e sem sonhos. Tanta nulidade aqui dentro. O pior dos males do mundo, a Esperança, aqui não se vê. Não há por que ir embora, Tristeza, abra as janelas e deixe chover. Melancólico, eu sei. Às vezes é difícil simplesmente dizer onde dói. Tem nome pra isso? Remédio que realmente dê jeito? Apenas está doendo, não sei como ou por quê. Não acho que alguém além de mim possa me tirar daqui. Mas eu chamo meu nome, peço socorro e não venho me ver. Ellen? Depressão? Despersonalização?

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Seu orgulho ferido te pegou desprevenido
E agora, meu amor, só se sinta arrependido
E agora, galeguinho, não devia ter traído
Tem essência nesse pranto?
"Eu te prometo"
Se você soubesse o quanto...
De verdade, eu só lamento

domingo, 8 de setembro de 2013

Eu hoje acordei quase em paz, apesar dessa dor em meu peito.
É só tomar um gole de sono e dormir, nos dias mais difíceis.
É só aumentar o volume ao nível máximo nos dias amenos.
Há magoas aqui dentro que prometem não passar tão cedo.
Mas pra ela perceber que estava errada não vai demorar muito.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

"E parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante."





domingo, 1 de setembro de 2013

Saudades amargas de viagens doces
Educando meus ouvidos pra não perder teus ruídos
Estudando sua língua pra compreender seus devaneios
Rebuscando suas palavras pra entender meus sentimentos
Encontrando na minúcia as origens desse amor
Estou vendo no espelho tua imagem de relance
Projetando na lembrança o que chamam de futuro
Procurando eu, encontrando você
Encontrando eu, procurando você
E vice e versa e verso

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O som do silêncio
A imagem do nada
O gosto do insípido
O mal do inócuo
Por entre as linhas
Por entre os dedos
Entre os cabelos
Por entre os medos
Por entre as minhas
Entranhas
Estranhas

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Hoje é um novo dia,
mas eu ainda lembro.
É um novo dia,
mas ontem não passou ainda.
Hoje é um novo dia,
mas a dor parece a mesma.
É um novo dia,
mas o sol não me convida.

domingo, 25 de agosto de 2013

Sinto diferente, mas não desprezo o que você sente
E sinto essa culpa de estar sendo eu mesma agora
E entender você ao invés de ir embora
De pedir por calma, pra você me ouvir
Pra não me ofender, pra não me ferir
Eu perco essa guerra, eu baixo a cabeça
Eu digo: "perdão", e você: "esqueça"
Eu peço desculpa, eu nem tenho culpa
Mas ao menos a dor me faz querer falar
Mesmo que agora eu não possa me abrir
Ao menos a dor me faz querer gritar
Ainda que seja melhor fugir
É que agora eu não quero culpar ninguém
Não vou procurar nisso solução
Sei que você só quer o meu bem
A única pena é achar que eu não

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Mais um sobre não abrir o guarda-chuva

Mais sozinha do que nunca, mais forte do que antes. Hoje sorri pra minha própria ausência. A sua, perto dela, que seria? É assim que vem a chuva hoje, graciosa, apagar meu fogo. E me pego cantando que "só o que pode acontecer é os pingo da chuva me molhar". Ah, a música... Essa não tem água que lave, não tem chuva que leve. É bom gostar da chuva, parece que a gente invoca que chova mais forte quando está em paz com a natureza, com a magia que ela propõe pra nós e, assim, nos inunda cada vez mais intensa. Como o silêncio, que independe do estardalhaço urbano. Pessoas, ônibus, lojas... Nada tão paralisador quanto a chuva — só não para quem dança (há quem faça da vida, música). E hoje, nem ácido, nem doce, nem fogo. A chuva lava minha cara, me prepara pra enfrentar o dia, mesmo eu tendo relutado pra acordar, achado que era pura obrigação. Ir ao dentista não foi o motivo pelo qual acordei. Acordei pra ver as árvores dançando, o vento cantando, a chuva me encharcando de vida. Estou viva, lembrando de dias não tão distantes, refazendo o percurso do que vivi sem saber que vivia. O som psicodélico se misturava com as risadas, com as imagens em câmera lenta, os olhares, ruídos, cores. Vibrantes, marcantes, distantes. Rimas fáceis, descrição minuciosa do indescritível. Ao menos pra mim, que não encontro palavra certa pra descrever o incerto, as sensações. Poderia passar o dia inteiro falando: ao término, nada teria sido dito. Palavras são tão ilimitadas quanto limitadoras. Nada define o que passou. Mas passou.Voltei (quase) ilesa. A gente nunca sabe bem o que pode acontecer quando a alma sai pra passear. E enquanto não estava entre vocês, compreendo que tenha sido difícil entender por que eu não tinha nada a dizer. Agora digo tudo, falo sozinha e com quem mais quiser saber, estou mais próxima do terreno, fui forçada a isso, mas trago lições sobre esse mundo daqui. Não posso me desligar dele por completo: Há troncos e jacarés num mesmo rio.

Mas que foi bom rir daquelas caras pintadas, ah, isso foi. Palhaços são nossa própria caricatura. Sinto saudades de quando eu achava que perder a chave de casa não era nada perto de achar a do universo.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Eu não compreendo um amor
Que só sabe, de fato, chorar
Não lembro se alguma vez
Você veio até mim me abraçar
Não é que eu não ame você
Na verdade, eu amo demais
Mas não vem com esse papo de droga
De inferno, de satanás
Aliás, nem conheço esse doido
Pode até ser um cara legal
Eu vi Deus com LSD
E o universo inteiro com maconha natural
Se as coisas estão invertidas
E eu não sei te fazer enxergar
Desculpa, mãe, vou embora
Mas deixo contigo meu celular
Eu não quero conversar
Não falo mais sobre isso
Já escolhi meu caminho
Essas olheiras são provas disso

quarta-feira, 17 de julho de 2013

antes eu me perguntava quando iria aprender
hoje o que eu anseio mesmo é conseguir desaprender
porque o fato de viver
tá no ato de esquecer
será o tato, espiritual
e o amor, sensorial?
eu nem preciso responder
eu nem tenho nada a dizer
eu não conheço a alma, eu não falo bem de Deus
eu não acredito em nada e por isso eu não sou ateu


terça-feira, 16 de julho de 2013

Você sempre tá brincando
Ou também diz a verdade?
Vou buscar no dicionário
O conceito de saudade
Não existe o altruísmo
Esse mundo é muito louco
Aliás, defina muito:
Muito, às vezes, é tão pouco
Vou dormir, sentir saudade
Vou querer te ver mais tarde
Mas não queira distorcer o que ainda nem falei
Gosto muito do silêncio e ele é tudo que hoje eu sei
Rivotril me deixa calma, eu gosto de fumar um
Quer saber? Deixa pra lá
Só falei lugar comum

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Ilusionistas

Não estamos tão conectados quanto promete uma viagem ácida
E lúcida, me convenço de novo que é na ausência do outro em que me sinto em comunhão com ele
Como agora, meu amor, em que lês meus olhos sem sequer vê-los
Através de palavras inúteis que nos mantiveram juntos por tanto tempo
Mas o tempo não é tão paciente quanto o amor gostaria
E já não será tão puro quanto foi um dia
Boas intenções não reconstroem ilusões
As más não recompensam frustrações
Amar por amar, é este o egoísmo mais genial
Amo tanto quanto antes, tanto quanto nunca mais

Adeus é uma droga forte demais
























Porém, não quer dizer final

quinta-feira, 4 de julho de 2013

domingo, 23 de junho de 2013

O tiro de misericórdia

Eu, enquanto punha à prova minha resistência e conversava com meu medo da irrealização, encontrei um novo vício. Estava atrasada. Atrasada pro futuro, pro passado e pro hoje. Pra esse último, não houve uma só vez em que tenha chegado a tempo. Corro atrás do vento no meio de um tiroteio, cega por opção. Eis que me atinge uma senhora. Ela jura que foi sem querer e eu juro que acredito. Atira em mim, sorri e se apresenta. Eu já a conhecia dos meus sonhos. Seu nome é Dalila. "Que olhos tão azuis, esses que não enxergam"... Foi tudo que a ouvi dizer. E ali, caída no chão, eu respirei aliviada: os gritos de quem corria de um lado para o outro pareciam cada vez mais distantes. As buzinas e disparos também. A verdade é que eu procurei essa mulher por alguns dias e ela veio até mim no meio dessa festa ao avesso como se soubesse disso. Mas ela não sabia. Ela, a culpada por atirar em mim, sabia menos do que eu o quanto eu precisava cair naquele chão e sentir gosto de sangue. A sensação é maravilhosa, mas é tudo tão rápido que você mal consegue descrever. Só lembra que sai de si e, saindo, perde a responsabilidade de ser quem é. Você vira nada. E nada é tudo.

O problema é quando as horas passam e as respostas vêm tarde demais. Você percebe que apressou a morte simplesmente porque tinha medo dela. E desperdiçou a vida procurando fora o que já tinha dentro... desde o dia em que chorou pela primeira vez.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Para o meu professor particular de crueldade.

Pensei que houvesse um pouco de alma em toda sua farsa, um pouco de verdade em todas as mentiras, mas você é velho demais pra acreditar no amor.... E eu era nova demais pra desacreditar. Hoje eu sei que perdi o jogo pra mim mesma. Você pode chorar como se fosse verdade, se declarar como se fosse poeta. Pode fazer tudo de novo, com aquela honestidade no olhar que eu nunca flagrei se desviando do meu. Pode escrever meu nome no mesmo lugar em que resta uma cicatriz se apagando pela força do tempo, esse que você subestimou, que julgou tão menor que sua "grandeza" (trilha de risada). E eu posso escrever sobre como você ensinou a uma criança que o amor não existe ao mesmo tempo em que pichava os muros da cidade clamando por ele e desenhando corações, posso falar que não adianta não comer os animais se você come suas mil mulheres como se precisasse se vingar de quem nunca te fez mal, posso, enfim, te dizer que se você morresse hoje eu não sentiria tristeza alguma. Eu posso cuspir todas essas verdades na sua cara e isso não mudará nada: seu cinismo se desmancha em lágrimas e continua intacto, como a cauda de uma lagartixa que sempre se regenera, enquanto a palavra amor pra mim não passará nunca mais de retórica vazia.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

o nervo de um exposto pro outro
teu olho insiste em molhar o meu
você tateia meu corpo no escuro
e a gente esquece o que prometeu
eu quero lamber as suas feridas
até a saliva pingar no chão
do pó que restou das histórias compridas
vou delinear um coração
aí você sopra, põe tudo a perder
teu jeito impulsivo me tira a razão
e a gente desliga a tv pra ver
cair o amor de grão em grão

sexta-feira, 7 de junho de 2013

A sua vida parece um filme. Um filme de drama que não sai da minha cabeça. Um quebra-cabeça infinito que eu sempre vou querer montar, estática como quando você ficou ao ver aqueles pedaços de papel no seu quarto. (Isso que eu disse agora foi só pro destinatário se reconhecer aqui)

Sua vida parece um filme denso. E eu só quis fazer parte dele pra, mesmo que longe de ti, te convencer, nem que fosse por um texto bobo como esses, que é possível voltar à essência.

Não me faça desacreditar. Acredite comigo que é possível voltar à essência.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

deveria ter ido dormir
com o sono me dominando
mas me agarrei à minha dor
e senti ela me abraçando
esqueci até a rima que tinha pensado em fazer
porque hoje o amor morreu
e eu precisei dar a notícia a mim
e disse que o tempo há de curar
e o que nessas horas a gente sempre diz
é claro que não acreditei
porque ainda é cedo demais
o velório nem acabou
e eu vou dormir um pouco mais tarde
porque hoje morreu meu amor

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Fui atrás da suavidade do seu som, mas a resposta me surpreendeu. Outra pessoa me desafiou e eu não fui embora até assimilar. Você nem sabe que eu te procurei, porque viram meu recado primeiro, mas desistiram de saber o que eu faria porque simplesmente não reagi.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Eu nunca mais terei você, meu bem
Porque não amo o suficiente pra fingir que não
Eu não te quero tanto assim pra ainda tentar mentir
Eu vou embora e eu assumo que você ganhou

Conheço o jeito de fazer voltar
Mas eu não amo tanto assim pra esconder a dor
Se não há tempo pra falar de nós, por que há tempo para bobagens? Você estava bem na minha frente e meus olhos te procuravam sem encontrar. Não respondi nenhum dos seus comentários banais só pra não ir ainda mais pra longe. Ainda mais pra longe, mesmo na tua cama. Ainda mais pra longe, mesmo te vendo chorar. Mesmo te abraçando, mesmo te beijando, mesmo tão perto, tão e tão dentro... Mesmo assim você não me deixa entrar. E é como se eu ainda estivesse parada na sua porta, com aquele olhar que você quase imita, quase corresponde, quase pergunta. Mas você não pergunta. É que entre o quase e a resposta, há um oceano de medos. Você me diz que são ondas. E que você gosta de ver as ondas. Eu gosto um pouco mais de você. Mas e daí, não é? Se a gente junto dá no mesmo. Você mais esverdeado, eu mais azul, o mar no meio-termo, a gente dançando a mesma música, tão mais silenciosa e profunda do que todas as melodias e letras que um dia pretendemos fazer. É bem verdade que nessa comunhão, não existe o tempo. Não existem as palavras. Não há por que falar de nós. E as bobagens... São outras. São bonitas.

g r a t i d ã o

sábado, 25 de maio de 2013

O som embriagante do violão toca flamenca
Misturando-se de súbito com o celular insistente
Tornando-se dissonante e ainda mais sangrento
Não para, não desliga, não apaga. Continua.
Ele pede explicações, mas quero dá-las a você (e quero dar pra você)
A você que não quer. A você que não precisa.

A você que não merece.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Refluxo

Ânsia de vômito sela o nosso fim. Eu deveria ter o tomado remédio e dormido cedo, estaria acordando agora, na mesma posição em que fui deitar. Mas fiquei esperando, vi o dia amanhecer e você apareceu me causando nojo. Eu odeio você. Odeio seu jeito de falar e mais ainda suas mentiras. Mas não espere que eu diga isso na sua cara, porque minto tão bem quanto você. Vamos ver quem resiste mais tempo. Ao fim da partida, alguém vai ter que perder.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Paradoxo

Estou viva e vejo agora que não amo mais você. E essa vida é tão maior do que o meu medo de morrer...

Sangue. Isso que jorra é sangue. Isso que mancha nossa parede, que se alastra pelo nosso chão. Humanidade. Não chega a ser grandeza e nem chega a deixar de ser. Isso que por pouco não me mata me distingue do que não tem vida.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Não sei por que insisto. Não sei que fio de esperança é esse que não se rompe, que só ameaça, e sobre o qual estou suspensa: balanço entre o sim e o não e não despenco para lado algum. Pior que me manter nesse equilíbrio adverso é fazê-lo enquanto estampo o mais brando sorriso. Eu vendo a minha dor pra alimentar o vício. Eu troco todo o amor por um grama de ilusão.

terça-feira, 14 de maio de 2013


Observo o tremor das minhas mãos. Parada, em silêncio. Já não luto contra isso. Acho curioso você mexer tanto comigo. Assim, meio que de propósito. Um despropósito. Mas não procuro com a velhas urgência minhas defesas. Porque não as tenho. Eu nunca as tive. Percebo isso agora olhando seus olhos pretos impenetráveis. Que estupidez medir forças com eles...

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Passo pelo parquinho que foi tantas vezes cenário dos meus sonhos, o parquinho dos nossos planos frustrados, onde eu te esperaria para, a partir daí, seguirmos juntos. O parque era a única certeza: o ponto de encontro. Seria muita pretensão da gente querer prever o depois. Um filme do Godard ou um mousse de maracujá? De repente, não sei por que, nos imaginei dançando essa música dos Smiths: a quarta do primeiro CD. As rimas que descrevem nosso quase caso são tão acidentais quanto ele mesmo. Tão acidentadas quanto as notas da canção que nos convida para a dança. Como o erro de grafia no letreiro do brinquedo: "alto pista". Poderíamos ter rido disso. Sequer nos encontramos. E hoje, não sei se passo pelo parque ou se é ele que passa por mim. Nesse curto intervalo, ouço o alarme do brinquedo cujo título está errado disparar. O tempo acabou. As crianças descem de seus carrinhos a contragosto. É assim que me sinto. "E se por acaso a gente se esbarrasse justamente aqui?" Insisto nessa fantasia, desacelerando os passos pra dar tempo de você aparecer. Podíamos ir a museus; turistas, em nossa própria cidade. Podíamos ir a motéis; turistas, em nossa própria liberdade. Poderíamos desbravar todos os mundos, samba na lapa, coco de roda, andar de bicicleta em Amsterdã. Um show do Milton, dessa vez comigo. E nada mais de lágrimas, mas sorrisos coloridos. "Quem sabe isso quer dizer amor?" Quem? Poderíamos somente nos ver também. Acenar educadamente, talvez seguir, separados, sem perder tempo com essa trabalheira toda de ser feliz. Seria muita pretensão da gente querer prever o depois.

http://www.youtube.com/watch?v=j68Mxg2ux78

sábado, 11 de maio de 2013

Teu olho é verde. Diz pra eu seguir em frente. Mas é mentira. É verde de mar. Canto da sereia, quer me afogar. Você não sabe que eu vivo submersa nesse oceano de você faz tempo. Faz frio. Já nem sei quanto tempo, quanto frio. Mas quanto mais eu te vejo por todos os lados desse azul, menos você está. O que é que eu tô dizendo? Já nem sei se é verde, se é azul. Mas é mentira. Canto da sereia.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Pode ser que enquanto eu penso em você assim
Vocês estejam vendo o mar, cantarolando Tom Jobim
Ou numa cama pequenina, se ajeitando pra caber
Um amor desses bem grande, como o que eu sinto por você
Meu bem, como é triste te ver da janela
Roubando uma flor do meu jardim pra ela

segunda-feira, 6 de maio de 2013


Eu tinha vontade de gritar. Lembra? Quando você me perguntou? Mas não era gritar no meio da rua ou na janela de madrugada, com uma garrafa de cachaça na mão não. Era gritar do seu lado, a qualquer hora, de dia de noite, gritar. Do lado não, na sua frente, sóbria, olhando nos seus olhos. Gritar! Porque você é tão bonito... Eu também tinha vontade de tirar minha roupa, rasgar minha roupa inteira no meu surto mais psicótico e exigir que você olhasse pra mim. Eu não tô falando de sexo não, pode tirar a mão daí, eu já sei você é bom em me devorar e virar pro lado. Tô falando de amor, o mesmo amor que você proclamava mas que nunca teve coragem de sentir na minha frente. Cadê esse amor? Olha nos meus olhos e me fala onde é que ele tá que eu juro que visto minha roupa agora, nem calço os chinelos, eu rolo escada abaixo se for preciso, mas garanto pra você que sou capaz de encontrá-lo.

sábado, 4 de maio de 2013

E como a mais ridícula piada, as primeiras gotas que saíram das minhas entranhas me fizeram imaginar a gargalhada satisfeita do destino, por me deixar presumir o que seria feito do meu sonho nos próximos minutos. Um sonho acalentado por tanto tempo, e que eu teria acalentado por toda a eternidade, começava a se desfazer diante dos meus olhos em forma de sangue. Em forma de dor. Dor viva que anunciava morte. Minhas mãos ensanguentadas marcaram no azulejo branco o primeiro dos dias de um vazio cruel. Sozinha gritando com as forças restantes por um socorro que nunca veio, que nunca viria. Desvanecendo de dor. E eu permaneci ali, não sei por quantas horas ou dias, desejando, até mesmo esperando morrer junto com meu filho. Esperando em vão e eu já devia saber. O pior castigo não era a morte, mas a vida que iniciava ali.
05-11-2011

"Eu discordo!", esbravejou Justine, apertando com força a taça de cristal que um dia conseguiu contemplar sorrindo sem saber ao certo o porquê. Talvez por ser ainda mais velha que as quatro paredes rachadas que rodeavam a vida ali. Ou por ser a única coisa que, depois de tanto tempo, ainda conseguia brilhar. O eco de suas duas palavras desfez um nó que há muito havia prometido eternidade. Era sua última frase. De fato, nenhuma a mais se fazia necessária. 
"Eu discordo!", Lucas repetia para si todas as noites. Era como se pudesse ouví-la dizer que “talvez ele mesmo já consentisse aquele dia a dia hostil e tudo bem também se o resto do mundo já não tinha nada a ver com isso: para ela, todos aqueles pontos de sangue e cristal no chão significavam um ponto apenas. Ponto final.” E que queria dizer discordar? Que estranha força tal palavra possuía para ser capaz de arrancar violentamente Justine do silêncio, do medo e de Amadora? Às vezes, durante as sucessivas madrugadas eternas sem ela, a chuva caía tão insistentemente que parecia querer sussurrar-lhe a resposta. Nessas horas, Lucas tentava simplesmente dormir. Sonhou que não tão longe dali, lágrimas e suor se fundiam no corpo de Justine. Um dia, não conseguindo visualizar um futuro convidativo onde estava, ela se deu conta de como adorava ser sua pior inimiga, alimentando as torturas mais terríveis, como se desejasse saber até que ponto sua alma aguentaria a pressão sem se deixar esmagar, como fizeram os sonhos. Os anos. A taça de cristal. Talvez, pensou Lucas, nessas e em outras horas, imersa na mais profunda urgência de fuga, Justine, como ele, desejasse apenas dormir.
18-09-2012

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Olha, meu amor
Continuo te traindo
E ainda assim te peço
Me deixe te ver dormindo
Mamãe me deu de tudo
É isso que me revolta
Por mim, ela vai embora
E você, se puder... Volta?
É só você chegar e eu fico em paz
Mas se você se afasta
Ancoro o barco em outro cais
Amor, se olhares bem
Verás que só faço mal
Por que olhaste pra trás?
Doce estátua de sal

domingo, 14 de abril de 2013

Ah, se eu te beijo agora


Dorme comigo essa noite, eu pago o táxi
Dorme comigo essa noite, eu pago o preço
Manda esse velho falar comigo que eu resolvo
Ei, pula da janela e dorme comigo essa noite
Mas Ellen, Ellen, Ellen…
Diga oi pra eu poder chorar
Porque teu nome é quase um mantra e tua voz é uma canção
E existe aí a possibilidade
De seres a mulher que meu destino escolheu
02/10/2012

quarta-feira, 10 de abril de 2013


Eu sempre tentei agradar minha mãe e o auge da frustração foi quando ela tentou impedir que eu fosse a única coisa que eu realmente sabia ser: Homossexual. As pessoas costumam dizer que sou bi, mas eu não me intitulo assim, quero ser levada a sério. A verdade é que homens me atraem numa proporção quase igual às mulheres, mas com elas eu me sinto mais segura. Minha mãe me levou a vários psicólogos. Ela jura que minha orientação sexual está diretamente ligada ao fato de ter sido estuprada aos 11 anos. Isso não é verdade. Eu já sabia que gostava de meninas antes disso e, sinceramente, não ligo se ela acredita ou não. Mesmo assim, não vou mais a psicólogo algum. Não faz sentido falar sobre aquele episódio horrível a essa altura. Sabe? Eu demorei anos pra me livrar do transtorno de pânico causado pelo trauma e, não obstante, os psicólogos acham que falar sobre o assunto vai me fazer bem a longo prazo. Foda-se o longo prazo. Não me sinto mais infeliz ou azarada que ninguém por levar a vida que levo. Uma em cada três mulheres serão violadas durante sua vida. Todos nós nos drogamos de algum modo. E todos nós vamos morrer também. São três da manhã e eu estou com frio. Sinto falta de quando a Fernanda dormia comigo. A essa hora, estaríamos lá em casa, cheirando cocaína e fazendo amor. Mas isso já faz três meses. O tempo cronológico passa rápido e agora eu estou na casa de um semi desconhecido, sem dinheiro pra comprar o pico e Petrúcio está com fome. Petrúcio é o meu cachorro. O dono da casa se chama Julio. É um cara legal, me ajudou pra caramba. Sinto-me mal por não ter como pagar essa dívida. Ele tem dinheiro e a geladeira é convidativa, mas prefiro passar fome. Não saí de casa pra depender de homem. Muito menos de um semi desconhecido. É lamentável iniciar uma amizade nessas circunstâncias. Fico constrangida o tempo inteiro, como se nós dois tivéssemos interesses velados. Faço o possível pra ele não achar que quero seduzi-lo numa tentativa de permanecer mais tempo aqui. Ele insiste em dizer que está mais feliz desde que eu cheguei. É complicado, porque eu realmente não tenho pra onde ir, mas receio que ele ache que pode ter mais de mim... Essa situação não vai se sustentar por muito tempo. Quero me mandar daqui o mais rápido, só não sei como. Já pensei em virar puta, mas nunca em voltar pra casa. Foi só quando começou a chover na madrugada do meu aniversário e eu achei que era álcool o que caía do céu, que percebi do que minha abstinência é capaz. Nessa noite brilhante, eu e Julio fizemos sexo quase selvagem. Nós nunca tínhamos tido qualquer tipo de contato íntimo, mas eu estava inconsequente e agressiva demais pra me importar com esse tipo de coisa. A casa não demorou muito a cair. Acordei e vi uma rosa e um bilhete em cima da cama. “Feliz aniversário!” Me vesti e saí do quarto, torcendo pra não esbarrar com ele na sala, mas isso aconteceu. Agradeci com um breve sorriso e fui embora. Ele abriu a porta atrás de mim, perguntando se a noite de ontem não tinha significado nada. Fechei os olhos mas não pude evitar por muito tempo o encontro dos olhares. O meu, atordoado. O dele, irredutível. Exigia uma resposta. Foi aí que tudo desandou. Minha reação foi dizer que era melhor eu sumir. A dele, dizer que devíamos ficar juntos. E que estava gostando de mim. Admirei sua coragem. Definitivamente, não a possuía. Repliquei que não achava que fizesse muito sentido iniciar um relacionamento com uma pessoa casando-se com ela. Ele riu-se e, com desdém, disse que o resto da minha vida também não fazia. Exatamente como eu previa, uma noite de intimidade transformou nossa relação irreparavelmente. Eu chamei o elevador. Ele entrou em casa, claramente impugnado. A salvação pra esse dia de merda é que era o meu aniversário e, por isso, nada mais justo do que ser presentada com maconha, álcool, doces e tudo que eu tivesse direito. E não demorou muito pro Ian me ligar. Foi bom chegar ao circo e ver meus amigos. Abstrair. Estava com tanta vontade de fumar que quase não notei a Fernanda de vestidinho se equilibrando no monociclo. Ninguém me deu os parabéns e eu esperei que a bendita surpresa começasse logo. Fiquei na minha e, por sorte, não demoraram muito com a brincadeirinha. Bolo de maconha e cerveja liberada! Às vezes, nós parecíamos uma família. 

sábado, 6 de abril de 2013


Se minha primeira reação não foi racional, se eu tinha que ir e escolhi ficar... É porque, provavelmente, tocou no coração. E quando você fecha os olhos e suspira por uma fração de segundos, o tempo para pra eu contemplar a beleza do acaso. Podia não ter sido, mas foi. Poderia vir a ser, mas não será. E é isso o que significa a expressão "felizes para sempre". Nós, que quando pesarmos os prós e contras, vamos desistir dessa maluquice frustrados, fomos felizes para sempre no momento em que sorrimos ao vermos a imagem que refletia no espelho quando crianças. É irônico porque eu não esperava encontrar alguém tão bonito quanto minha infância em meio a tanto vazio. Mas a vida não liga pro que espero ou desespero. Ela te trouxe e vai te levar como bem entender. É por isso que eu te olho tão devagar. Da primeira vez seus traços se perdiam na memória, mas desde ontem seu rosto está perfeitamente desenhado na minha frente. E não tem sacudida de cabeça que te dilua na realidade da ausência.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Esperança minguante

Oh, lua, não me olhes tão tristonha desta fresta de janela: Eu também estou diminuindo um pouco a cada noite.

domingo, 31 de março de 2013


Foi aquele capricho de chamar de amor sua aparição, mesmo distante, míope e sem saber sequer seu nome, que me levou pro seu lado dias depois. Então entendi que não é verdade que aquilo que a gente procura só chega quando menos se espera. Eu te encontrei no dia em que saí de casa sedenta por algo pra chamar de felicidade, passei a noite te observando e por você sendo observada e o que teria acabado aí recomeçou porque, teimosa, eu não desisti de te encontrar nessa vida mais uma vez. E assim, dividimos mar, cama e sonhos. Entre olhares, sorrisos e incredulidade que, depois de dez horas grudados, a gente não se dava ao trabalho de disfarçar. Você ali, que parecia mais intrigante a cada vez que eu abria os olhos, era verdade mesmo. Assim te imaginei e assim você me apareceu. E me olhou, me sorriu e me beijou; e se demorou deliciosamente nesses três impulsos, como se cada um deles fosse o último, como quem está exatamente onde gostaria. E eu fui feliz. Mesmo sem garantia de que isso não seria só um relato no diário no dia seguinte, um desejo, uma quase necessidade de contar pros meus papéis que o amor existe sim, ainda que só dure dez horas. E sigo multiplicando esses dez por dez, pra dar tempo de suspirar por outras tardes degradês e outras noites de lua cheia iguaizinhas àquela, pra dar tempo de lembrar como é não estar tão só...
Pra dar tempo de, em segredo, esperar você voltar.

“Daria pra pintar todo o azul do céu, dava pra encher o universo da vida que eu quis pra mim. Quando eu mergulhei fundo nesse olhar, fui dono do mar azul, de todo azul do mar. Foi assim, como ver o mar. Foi a primeira vez que eu vi o mar. Daria pra beber todo o azul do mar.”

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Na tua ausência, te roubo um beijo. Te mancho de batom. Na tua cama, faço amor com teu fantasma. Não há velas. Quero velas! Vou buscá-las... Incendiar seu quarto. Onde guardam as velas na sua casa? Por que pergunto? Se eu não sei, imagine você. Sorriso. Sou riso. Porque não posso acender velas. Velas são pros santos. E santos não riem. É noite. É tão tarde. Estou nua. Há uma luz aqui. É o teu computador. Num gesto de incentivo, ele pisca pra mim, me incita. Ingênuo e inerte, você nem pisca. Me excita. Vamos dançar. Não há velas, mas há fogo. Chamas. Tu. Me chamas. Eu vou. Eu voo. Sorris. Só ris. As palavras se camuflam nas roupas espalhadas pra nos ver fazer amor. E desfazer amor, só pra fazer de novo. Mais rápido agora. Mais molhado agora. Mais dentro agora. Mais... Ai... Agora! Até que eu já não te vejo. Me desfiz com o fantasma na fumaça. Onde estamos? Não há espelhos aqui. Cadê minhas fotos? Quero vê-las! Vou buscá-las... Restituir pedaços. Onde guardam as respostas na sua casa? Procuro, divago, te trago. Você me olhando. Ou o fantasma. Às vezes não os distingo. Não sei de qual gosto mais. Ele tira minha roupa mais devagar, mas seu gosto é mais salgado. “Seu” gosto é o gosto de quem? Dele ou o seu? O teu! Uma letra diferencia, te faz parecer mais substancial, te dá uma dose a mais de sal, mas é ele quem não se cansa de mim. Vamos morar juntos, transar todos os dias, ele acaba de me dizer baixinho que é só depois do gozo que se faz amor.


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013


Se você não me amasse nem gritasse pro mundo ouvir
E se você não sofresse ao dizer “tenho que ir”
Se não me chamasse baixinho pra só o silêncio escutar
Se não trancasse a porta pra só ele te ouvir chorar
E se de repente a vida fosse pra sobreviver
Se não tivesse sorrido quando meus pés brincaram com os seus
E se não se indignasse ao me ouvir dizer “adeus”
Poderia não ter chorado no instante em que me abraçou
Ou então não ter tremido ao me ouvir dizer “amor”
E se de repente a vida fosse pra sóbrio viver?

Tenho que ir
Adeus
Amor

sábado, 26 de janeiro de 2013

Se foi nesse abraço que eu me perdi...


Eu poderia lembrar do que foi bonito. Como quando eu te contei do ano novo, das horas que passei tendo alucinações que você estava na minha cama. Quando você ouviu a combinação dessas duas palavras, eu vi seu corpo tremer como se um arrepio o percorresse inteiro de súbito, uma descarga elétrica de lembranças das quais você foge o invadisse por completo. Mas será que a beleza desse arrepio que durou um segundo compensou a dor das horas que se arrastavam enquanto a saudade me sufocava e meu próprio delírio me ludibriava?

Quando eu te abracei de repente, você chorou, eu te embalei, e você disse que eu te devolvi pra você mesmo. E agora? Quem vai me devolver pra mim?

terça-feira, 8 de janeiro de 2013


Foi nessa tarde insignificante de terça-feira que encontrei a redenção. Debruçada sobre a janela, contemplando os bancos vazios onde costumávamos ficar, percebi que já não tinha por que sentir dor. Uma criança brinca. Uma ave atravessa o céu. Um cenário pelo qual meus olhos já se cansaram de percorrer e chorar. Banal. Porém, há pouco, choveu. A chuva foi o prêmio de consolação por ter sobrevivido calada todos esses meses. A redenção é a verdadeira coroa, afinal. Em outros tempos, achei que ela me traria você. Ou que você, sorrindo, a traria pra mim. Talvez eu tenha achado que uma coisa dava na outra. Não. É exatamente o contrário. Veja só, eu já nem esperava pela sentença e eis que chega a absolvição...